domingo, 28 de julho de 2013

O primeiro Pudim Molotov a gente nunca esquece...


Esta semana me deu uma vontade de louca de comer pudim de claras – talvez essa minha vontade tenha sido uma influencia da novela (vi uma cena onde uma personagem servia este tipo de pudim, e eu cheguei a salivar)
Pois bem, sempre ouvi dizer que pudim de claras era uma coisa complicada pra se fazer, cheio de segredos e sei lá mais o quê, que o povo inventa pra deixar a gente só com a vontade de comer... Fui atrás da receita e acabei fazendo o danado.
Encontrei uma clássica receita portuguesa para pudim de claras, que por sinal, por lá se chama pudim molotov, e resolvi fazer um. A receita em nada se pareceu complicada – de fato não é -, e ainda lhe permite fazer o doce com a quantidade de claras que você dispõe (o eu que achei um luxo, considerando que hoje em dia, as coisas não andam lá tão bem, para se gastar milhões de claras pra fazer um doce).
Olhem abaixo o meu pudim Molotov. Pra ser o primeiro que eu  fiz na vida até que não ficou dos piores (risos). No entanto já sei o meu gosto e na próxima vez que o for preparar novamente, eu não mais colocarei as quatro colheres de caramelo que eu coloquei neste aí. – elas deixaram o gosto muito acentuado.

Meu Molotov ainda no forno
Meu Molotov depois de pronto servido apenas com caramelo

E como não poderia deixar de ser, eu fui atrás de descobrir porque o pudim de claras, em Portugal, é popularmente conhecido como molotov. 

Pudim Molotov servido tradicionalmente com molho de gemas
Servido apenas com caramelo - fica lindo feito  com muitas claras!

Pelo que pude desvendar a denominação do pudim vem do nome de um diplomata/político soviético russo. Viatcheslav Mikhailovitch Molotov (nascido Viatcheslav Mikhailovitch Scriábin), o qual foi o genocidiário na Ucrânia em 1932/33 (episódio conhecido na história como Holodomor) e cujo nome foi ironicamente atribuído à arma química incendiária (cocktail molotov) pelos finlandeses na época da invasão soviética do seu país.

Molotov
O mais engraçado é que quando postei a foto do meu pudim no facebook, as pessoas começaram a perguntar se ele era do tipo que explodia (risos). E faz sentido esta pergunta, se considerar que a maioria das pessoas fazem uma rápida alusão dos termos com o que eles representam na íntegra. Mas de fato, como é que essa arma tão destrutiva veio a ser, em Portugal, o nome para uma sobremesa? Por que eu divido que alguém, por lá, tenha saído gastando claras e mais claras, pra fazer o pudim e sair por aí bombardeando os inimigos.
Daí, a explicação pra esta dúvida também surgiu. Diz-se que o nome original deste doce seria «pudim Malakoff» e estaria relacionado com a guerra da Crimeia que decorreu em 1853 e 1856. Malakoff é o nome de uma fortaleza que protegia a cidade de Sebastopol.

Duque Malakoff
O general francês Aimable Jean Jacques Pélissier tomou esta fortaleza e recebeu o título de duque de Malakoff. E este pudim seria uma sobremesa dos tempos de guerra na Europa, numa época em que a doçaria portuguesa preparava este pudim para aproveitar as claras que sobram das receitas que levavam muitas gemas, característica típica da doçaria daquela região. Talvez pela popularidade destes dois influentes homens de batalha, e a confusão com seus nomes, e o período de guerra, o povo português passou a designar também esta sobremesa por «pudim Molotov».

Pudim Molotov
Servido com molho de gemas - receita abaixo

Claras (um bom pudim geralmente é feito com 12)
1 colher (sopa) de açúcar por cada clara
caramelo liquido o quanto baste (pode usar o mel Karo ou fazer o seu caramelo).
margarina para untar a forma

Preparo: Untar a forma com margarina. Pré-aquecer o forno a 180ºC. Bater as claras até que elas fiquem bem firmes, juntar o açúcar colher a colher, batendo sempre. Juntar o caramelo liquida até ficar com a cor pretendida (no meu pudim eu usei quatro colheres, mas como eu só tinha usado três claras acho que deixou o gosto muito forte. Então coloque o caramelo e vá provando a mistura). Com a forma previamente untada apenas com manteiga deite colheradas da massa na forma, tendo o cuidado de evitar deixar buracos, mexendo com a colher, alise bem. Levar ao forno, deixar cozer uns 20 minutos, ou até ficar corado por cima. Desligar o forno e deixar arrefecer lá dentro. Desenformar depois de frio e cobrir a gosto, ou com caramelo ou com um tradicional molho feito com gemas.

Molho de gemas:
6 colheres (sopa) de açúcar
6 gemas
água q.b.

Preparo: Numa frigideira média, deitar o açúcar e um pouco de água e deixar ferver ( não mexer com a colher de pau para não fazer pedra, roda-se a frigideira). Quando fizer um caramelo muito claro, deitar mais um pouco de água e deixar fazer ponto de pérola. Deixar arrefecer e depois misturar as gemas na calda e levar ao fogo a engrossar mexendo sempre, não deixar ferver para não talhar.
Deitar o molho por cima do Molotov, ou então servir à parte e cada um come o Molotov como preferir.

terça-feira, 23 de julho de 2013

Le Puits D’Amour

A massa folhada sempre rende delícias, doces e salgadas, que fazem a alegria dos gulosos nas confeitarias (eu que o diga!). Parece que este tipo de massa deixa tudo mais gostoso e acaba dando um “ar de refinamento” nos preparados. Para não esconder meu encantamento pela massa folhada resolvi, hoje, trazer, a história de uma receita deliciosa que a utiliza no preparo, receita tão especial que acabou gerando polêmica, e isso virou a ‘alma do negócio’ para difundi-la ainda mais. Eu falo sobre Le puits d’amour (poço do amor).




Porém, antes de eu começar a esclarecer sobre a gênese desse doce luxurioso, preciso comentar: eu preferi não colocar no título a tradução, ao pé da letra, para o nome em português para este doce. Pois, em francês, tudo fica mais bonito!





Le puits d’amour é uma pâtisserie inventada por um grande chef confeiteiro no século XVIII. Surgida simultaneamente com outra receita bem tradicional da culinária francesa, cada uma servia dois rivais. As duas tinham, porém, o mesmo objetivo: o de atrair a atenção de um mesmo homem, o rei Luís XV. Uma preparação era calorosa e generosa enquanto a outra era travessa e ousada.

Maria Leczinska, esposa de Luís XV, tendo perdido as graças de seu marido após dez gestações, recorreu à arte de seu chef pasteleiro para tentar recuperar os favores do rei. 

O amor e a boa comida não andam de mãos dadas? Nicolas Stohrer, que serviu à rainha durante sua juventude e a seguiu a Versalhes após seu casamento, inventou assim a “bouchée à la reine” (mordida na rainha, ou bocado da rainha). Esta deliciosa caixinha de massa folhada, recheada de salpicão ou com creme de frango ou camarões, tornou-se um clássico da culinária francesa. Embora tenha se espalhado além das fronteiras do reino, a mordida da rainha infelizmente não cumpriu seu papel principal, o de seduzir o rei. Porque, ao mesmo tempo, outro doce começava a fazer barulho durante as refeições íntimas do monarca com sua amante Madame de Pompadour. Proposta por Vincent la Chapelle, chef da Marquesa, foi chamada de "poço do amor" (puits d’amour).

Marie Leszczinska, rainha da França, por Carle Van Loo, 1747

La marquise de Pompadour, por François Boucher (1756).

Vincent La Chapelle, um grande Chef de cuisine do século XVIII, era o inimigo jurado de François Massialot, (1660, em Limoges - 1733, em Paris ) outro conhecido Chef francês que serviu como chef de cuisine ( officier de bouche ) a vários personagens ilustres, incluindo Philippe I, duque de Orléans , irmão de Louis XIV e seu filho Philippe II, duque de Orléans , que foi primeiro duque de Chartres e depois regente, assim como o duque d'Aumont, o cardeal d'Estrées e o marquês de Louvois. As intrigas entre os dois deve-se ao fato de Massialot  ter copiado muitas das receitas de La Chapelle e apresentar como ideia sua. Mas, neste caso, no entanto, não há nenhuma controvérsia, pois não se pode encontrar Le puits d’amour no Le Cuisinier Royal et Bourgeois. Esta receita é de La Chapelle, que a escreveu tanto em Inglês e Francês e a publicou no The Modern Cook, em 1735, e você pode conferir na integra a receita origina, em francês, abaixo:

Faites un feuilletage : votre feuilletage étant fait, étendez-le de l’épaisseur d’un écu ou de deux florins. Mettez un plat par-dessus de la grandeur que vous voulez faire votre gâteau ; coupez la pâte tout autour ; mettez cette abbesse sur un plafond ; ensuite prenez un autre plat qui soit plus petit d’un bon pouce et refaites une autre abbesse ; coupez-là dans le milieu, et enlevez la pièce de six pouces en rondeur, selon la grandeur de votre gâteau, et mettez le collier sur votre première abbesse ; faites quatre « S » aussi grandes que vous le jugerez à propos, pour le moins de quatre pouces de hauteur, elles se font du même feuilletage. Faites cuire le tout au four ; étant cuit, poudrez votre gâteau au sucre et le glacez avec la pèle rouge ; il faut que les S soit glacés de tout coté. Vous formez un petit cordon de la longueur de quatre à cinq pouces pour imiter les seaux d’un puits… », écrit Vincent La Chapelle dans son « Cuisinier Moderne » en 1735.

É preciso ressaltar que, Les bouchées à la reine eram compostas geralmente de uma caixinha de massa folhada recheada e com uma tampinha da mesma massa, às vezes poderia ser apresentada em uma variação feita de massa choux. Tudo parecia perfeitamente inocente. Mas, Madame de Pompadour havia pedido para o seu chef deixar de lado o salpicão usado na preparação de Les bouchées porque ela achava essa preparação muito com cara de "família", muito enfadonha. E, assim, Le puits d’amour de La Chapelle surgiu recheado com geleia de groselha, bem vermelha, as vezes eram servidas com marmelada de damasco. A ideia de Madame de Pompadour era libidinosa, e o confeiteiro entendeu: fez um poço que lembrava “outro”, ainda mais atraente, foi muito sugestivo, e assim o doce virou um escândalo principalmente para a Igreja.









Ao que revela a história, sabe-se que a preferência do rei entre as duas preparações era escancarada: o rei Louis XV servia Le puits d'amour, que supostamente representava "Les puits d'amour royal”, durante seus jantares íntimos com os convidados favoritos.

Essa representação erótica era bem conhecida pela corte e aumentava o escândalo com a Igreja e os puritanos. De forma que, para aliviar a confusão gerada, a geleia vermelha foi substituída por crème pâtissière na tentativa de tornar o bocado menos “pecaminoso e esculhambativo”; E, assim, ele seria mais aceitável. Essa mudança ainda incluiria outra, as caixinhas de massa folhada recheadas com crème pâtissière ganharariam também uma cobertura caramelizada. E assim, se esconderam as “vergonhas”!

Outra controvérsia só surgiria quando alguns atribuíam criação deste doce, no século XIX, ao confeiteiro Coquelin, em homenagem a uma ópera cômica chamada, "Le puits d'amour", de Balfe, Scribe e Leuven.



Um fato interessante é que, em 1930, surgia a Stohrer - uma pastelaria parisiense que se especializou no preparo deste doce, e o apresentava definitivamente com recheio de creme e crosta caramelizada, de modo que perpetuou essa ideia receita até os nossos dias. O puit d’amour da Stohrer, na rue Montorgueil 75002 de Paris,é considerado por muitos como o melhor do mundo. e pode ser encontrado também na forma retangular e grande



Um pouco mais de história...


A evocação romântica do “poço do amor” me permite citar uma verdadeira história sobre "Le puits d'amour", contada a partir da existência de um dos poços de Paris, que acabou dando seu nome a uma rua no bairro de Les Halles.

O poço de amor já foi um autêntico poço de água, na qual uma verdadeira história de amor tenha dado ao chef pasteleiro a ideia para a sua criação. No século XII, ficava em plena Halles de Paris, no cruzamento da Torre, entre o cruzamento da rue Mondétour e da rue de la Grande Truanderie, um poço que sustenta a origem de uma lenda urbana francesa que sobreviveu. até nossos dias.

Puits d'Amour, no cruzamento da rue de Montdétour, rue de la Pirouette e rue de la Grande Truanderie.

Diz-se que Agnès Héllebic, uma jovem traída por seu amante, fez a tentativa de acabar com sua dor se jogando no poço. Trezentos anos depois, um jovem, rejeitado pela família de sua namora queria acabar com sua vida da mesma maneira. E atirou-se no poço. Felizmente ele foi salvo, com a ajuda de uma corda – dizem que pela família cruel de sua namorada. Ele teve seus ferimentos suavizados, foi confortado pela amada, e com isso os pais da jovem acabaram concedendo-lhe a mão de sua filha. Durante séculos, o poço foi um local de peregrinação para jovens amantes. Ao cair da noite, era possível ver casais cantando, dançando e fazendo juramentos de amor eterno em volta do poço.

Com o tempo, o tal o poço caiu em desuso e o casal se permitiu restaurá-lo, e lá deixaram a seguinte inscrição "O amor me refez em 1525, por completo" [os românticos devem estar se esbaldando com esta realidade de outrora, mas a história ainda não acabou. A visitação era tanta, com bagunça e barulho, que a vizinhança mandou soterrar o poço.

A essa história, aparentemente tão romântica, ainda se pode ter uma alusão mais sexual, quando se vai ver na história que la rue du puits d'amour, onde o poço se localizava era, então, um antro de prostitutas... Agora, restam as histórias de amor e "poços de amor" ainda oferecidos pela boutique Stohrer, a poucos passos do antigo entroncamento onde o velho poço ficava localizado. Esta pastelaria, uma das mais antiga de Paris, situada na rue Montorgueil, apresenta os poços de amor na sua versão sóbria, com creme de pasteleiro. Mas, em casa, você também poderá experimentar a versão voluptuosa de Vincent La Chapelle.


Les puits d’amour

375 gr de massa folhada (ou 6 vol au vent prontos)

60 ml de leite

2 ovos

4 gemas

75 gramas de açúcar refinado (ou açúcar de confeiteiro)

60 g de farinha de trigo

80 gramas de açúcar para fazer o caramelo

uma colher de sopa de água

1 colher de chá de baunilha em pó (ou de essência)

Manteiga

Preparo: Pré-aqueça o forno (180 °). Despeje o leite em uma panela e deixe ferver. Bata as gemas, os ovos inteiros e o açúcar. Quando tiver dobrado de volume adicione a farinha e a baunilha. Em seguida retire a panela que deve estar com o leite fervendo do fogo e despeje a mistura junto ao leite, mexa constantemente. Leve a mistura de volta ao fogo baixo e deixe até engrossar. Deixe esfriar. Quando frio leve à geladeira coberto com filme plástico. Massa: Abra a massa folhada em uma superfície enfarinhada. Passe manteiga em 6 forminhas de 5 cm de diâmetro (aquelas forminhas redondas altinhas – Tipo para cucpcake, ou se preferir compre vol au vent prontos e só recheie). Encha as formas com a massa, faça furos no fundo e os lados com um garfo. Cubra a massa com papel manteiga e encha com feijão. Asse por 15 minutos. Retire as do forno, remova os feijões e o papel manteiga e deixe esfriar. Caramelo: Coloque o açúcar em uma panela com uma colher de sopa de água. Coloque em fogo médio e deixe cozinhar sem mexer até que vire caramelo. Retire a massa do seu molde, recheie com o creme frio e despeje delicadamente sobre o creme gelado, o caramelo ainda quente. O contraste entre as duas temperaturas deve endurecer o caramelo, quase que imediatamente. Mantenha-se o doce em local seco e à temperatura ambiente até que esteja o momento de servir.

Obs.: se preferir, recheie apenas com geleia de frutas (groselha, framboesa, morango ou damasco.

sexta-feira, 12 de julho de 2013

Les financiers (Os financeiros)


Hoje em dia sempre escuto as pessoas falando em praticidade na hora da alimentação. Eu até compreendo essa onda de comida fast food; Mas sou mesmo é defensor do movimento slow food.
Com esta premissa fui dar uma olhadinha na história e descobri que esta onda de praticidade não é tão nova quanto parece. Desde 1890 os franceses já enveredavam por este caminho. E foi aí que Le Financier ganhou mais popularidade.


Um Financier nada mais é do que um pequeno e delicado bolinho. Discreto na aparência ele pode encantar com a suavidade de seu sabor: a primeira impressão que se tem dele é de um bolo seco e duro (por fora), mas quando se morde, ele se revela macio e úmido. É tão popular na França que já não aparece mais nem nos livros de receita. Sua base é feita de amêndoas, açúcar e manteiga e combina com todas as ocasiões.


Sabe-se que seu surgimento é secular (provavelmente no século XIX), sendo desenvolvido pelas irmãs da Ordem da Visitação. O bolinho da visitação – assim chamado na época – tinha formato ovalado e encantavam por seu aroma de amêndoas. No entanto as coisas mudaram após a Renascença (a “arsênica sensação” de amêndoa amarga – advinda desde os tempos de Catherine de Médici que possuía uma tendência infeliz de dar presentes envenenados, acabava assustando as pessoas. Assim tudo que era feito com amêndoas foi suspeito durante séculos. Talvez por isso os bolinhos da visitação não tiveram tanto renome).


 Essa receita das irmãs da visitação teria então inspirado um confeiteiro francês de nome Lasne, que em 1890, era dono de uma confeitaria que ficava perto da Bolsa de Valores, em Paris. A sua clientela era composta principalmente de ansiosos financeiros que procuravam engolir tudo rapidamente. Assim, Lasne também teve a ideia (uma brilhante jogada de marketing) para alterar a forma oval do bolinho original para que ela evocasse a forma de barras de ouro.



Lasne teria dado ao doce o nome financier para afzer uma alusão ao bolinho  modelado no formato de barras de ouro que iria acompanhar o chá ou café dos “financeiros” da Bolsa de Paris. As “barrinhas” eram embrulhadas para não sujar as mãos dos clientes, um charme na hora de fechar grandes negócios, como convidava o menu da confeitaria.
No entanto, há quem conteste que a confeitaria de Lasne teria lançado o financier para conquistar uma identificação com os ricos que frequentavam o mundo dos negócios – principalmente, pelo fato de que as amêndoas eram ingredientes considerados de luxo e caros para aquela época. Outros ainda dizem que os suíços sãos os responsáveis pelo nome e pela forma do bolinho. Mas uma coisa é fato consumado e indiscutível: o financier surgiu para atrair a classe abastada dos frequentadores do mercado financeiro.


A Larousse Gastronomique, a mais importante enciclopédia da gastronomia, não divaga nem afirma nada sobre a origem do financier, mas define o bolo como sendo feito a partir de uma mistura aerada de amêndoas moídas e claras batidas. "Financiers pequenos são ovais ou retangulares, podendo ser utilizados como base para petit fours gelados", diz o livro. "Grandes bolos feitos com a mesma mistura são decorados com amêndoas e frutas cristalizadas. Para prepará-los, costumam ser assados em fôrmas que diminuem seu tamanho e, em seguida, os grandes bolos são construídos com camadas desses, que foram assados separadamente."


Tive até uma inspiração: com as facilidades de hoje podemos deixar os financier ainda mais personalizados, mais simbólicos, imaginem encapá-los com folhas de ouro comestível e deixa-los idênticos as barras de ouro original? Uma ideia boa, não é? ( Tudo bem, vamos colocar os pés no chão – nem todo mundo tem dinheiro pra ficar cobrindo bolo com ouro. Mas com certeza qualquer um pode fazer estes bolinhos pra se deleitar na hora do café. Hoje em dia, nas lojas que  vendem material pra festa se pode encontrar  as forminhas nos formatos tradicionais e que facilitam seu trabalho. Mas se você não quer  gastar, use aquelas velhas forminhas de empada que você deve ter  guardado no seu armário. O importante é preparar a receita e sentir o sabor.



Financier (receita básica)

Ingredientes:
150g de açúcar de confeiteiro
50g de farinha de trigo
80g de amêndoas processadas (em farinha)
3 claras
140g de manteiga sem sal derretida e fria

Preparo: Bater as claras em neve. Acrescentar a farinha de trigo, as amêndoas, e o açúcar, batendo delicadamente. Juntar a manteiga, sem parar de mexer. Distribuir em forminhas (pode ser de barquetes) untadas e polvilhadas. Leve ao forno à temperatura de 230ºC por 7 minutos, reduza a temperatura para 200 ºC e asse por mais 7 minutos. Retire do forno e deixe esfriar. Conserve em potes de vidro por até 15 dias.
  
Financiers de castanha de caju
Ingredientes

150 g de manteiga sem sal
1 xícara de farinha de castanha de caju (ou de amêndoas) - 110 g
1 e 1/4 de xícara de açúcar de confeiteiro - 180 g
1/2 de xícara de farinha de trigo - 60 g
3/4 de xícara de claras - 180 ml - 6 claras de ovos médios

Preparo: leve a manteiga ao fogo médio e deixe dourar. No início vai fazer um chiado, quando o barulho parar fique de olho para que a manteiga não queime e desligue o fogo. Deixe esfriar um pouco. Misture a farinha de castanha com a farinha de trigo e o açúcar. Junte as claras sem bater e misture bem. Adicione a manteiga e misture. Coloque a massa em forminhas pequenas untadas e enfarinhadas. Leve ao forno médio por aproximadamente 25 minutos ou até dourar.

terça-feira, 2 de julho de 2013

Brindes no País das Maravílhas

Tem vezes que a gente precisa sair da realidade. Nestes momentos ter uma válvula de escape é muito importante. As mídias especializadas em saúde e qualidade de vida nos trazem atualmente informações que não são lá muito animadoras como, por exemplo, afirmam que as relações pessoais estão cada vez mais “informatizadas” – o que seria um prejuízo imenso pra saúde; e, que a depressão já é um mal do século.
Pensando nestes assuntos e na minha atual condição (minha crise renal ainda me atormentando) tenho ido ao hospital e  vejo a quantidade de gente precisando de ajuda, de uma palavra. Nessas horas é melhor não levar a vida tão a serio, ter paciência e não desistir. Mas, pensando bem, dar uma de louco pode ser uma solução – pra ver se o tempo muda e a vida fica melhor.
Pra isso, resolvi surtar um pouco (risos – como se eu não fizesse isso bastante), e tentar escrever algo igualmente doido (Eu amo ser louco), porém lúcido e, que isso fosse expresso, de alguma forma, por alguma veia da possibilidade que a gastronomia me permite.
Então, pensei em dar uma relida em O Elogio da Loucura, de Erasmo de Roterdã, publicado em 1511, para ver o que eu poderia extrair.

O ensaio O Elogio da Loucura é repleto de alusões clássicas, escritas no estilo típico dos humanistas do Renascimento. A Loucura se compara a um dos deuses, filha de Plutão e Frescura, educada pela Inebriação e Ignorância, cujos companheiros fiéis incluem Philautia (amor-próprio), Kolakia (elogios), Lethe (esquecimento), Misoponia (preguiça), Hedone (prazer), Anoia (Loucura), Tryphe (falta de vontade), Komos (destempero) e Eegretos Hypnos (sono morto). O Elogio da Loucura conheceu um enorme êxito popular, para surpresa de Erasmo e, também, para seu desgosto. O Papa Leão X achou a obra divertida. Antes da morte de Erasmo já havia sido traduzida para o francês e alemão. Uma edição de 1511 foi ilustrada com gravuras em madeira de Hans Holbein, que se tornaram as ilustrações da obra mais difundidas. A obra influenciou a essência da retórica durante o século XVI, e a arte da adoxografia (o elogio imerecido de pessoas ou coisas sem valor, vulgares) e se converteu em um exercício popular entre os estudantes isabelinos.

O fato é que eu não fiquei inspirado. Daí, fui buscar uma coisa mais divertida, menos densa – na realidade estava em busca de um livro com conteúdo meio louco, mas que a maioria das pessoas tivesse noção da sua história. E achei! E vou começar a divagar por ele.
Os diálogos apresentados abaixo estão presentes no livro mais citado da literatura universal depois da Bíblia (pra mim um dos melhores, inclusive), “Alice no País das Maravilhas”, de Lewis Carroll , onde as relações sociais e a força de vontade fazem toda a diferença ao longo do texto. Muitos o compreendem como um conto de fadas moderninho, surreal, onde a imaginação fértil do autor é bem explorada nas personagens. Eu acho a obra uma verdadeira obra de filosofia, escrita para crianças e também para adultos – e que conseguiu materializar o fascínio pelo o impossível numa realidade que pode sim ser vivida por qualquer um, a qualquer tempo. Basta ficar a tento e abrir bem os olhos.
  


"Mas eu não quero me encontrar com gente louca", Observou Alice.
" Você não pode evitar isso", replicou o gato.
"Todos nós aqui somos loucos. Eu sou louco, você é louca".
"Como você sabe que eu sou louca?" indagou Alice.
"Deve ser", disse o gato, "Ou não estaria aqui".

Alice: Chapeleiro, você me acha louca?
Chapeleiro: Louca, louquinha ! Mas vou te contar um segredo: as melhores pessoas são .

Suponho que saiba o que 'isso' significa. — disse o Camundongo.
Sei muito bem o que 'isso' significa quando eu acho uma coisa. — disse o Pato.

Alice retrucou, bastante timidamente: "Eu - eu não sei muito bem, Senhora, no presente momento - pelo menos eu sei quem eu era quando levantei esta manhã, mas acho que tenho mudado muitas vezes desde então."

Deixe-me pensar: eu era a mesma quando me levantei essa manhã? Tenho uma ligeira lembrança de que me senti um bocadinho diferente. Mas, se não sou a mesma, a próxima pergunta é: Afinal de contas quem eu sou? Ah, este é o grande enigma!
  
Não bastasse o livro oportunizar a entrada numa realidade paralela, cheia de exoticidade, outro ponto nessa loucura escrita é que existem ali muitas referencias gastronômicas. E isso me atrai ainda mais. Relembremos alguns desses fatos:


 A (tadinha) da Alice, tão logo caiu no poço, passou por vidro de geleia de laranja vazio; e, quando chegou ao chão, encontrou sobre a mesa uma garrafa com rótulo “Beba-me”. Bebeu. O líquido tinha um sabor que de acordo com ela, era “uma mistura de torta de cereja, creme de leite, suco de abacaxi, peru assado, doce puxa-puxa e torradas quentes com manteiga”. Acontece que a tal bebida foi um problema: mesmo saborosa, a fez ir encolhendo até ficar “com uns vinte e cinco centímetros”.


Junto à garrafa, na mesma mesa, havia um bolo com a indicação “Coma-me”. Comeu. E aconteceu o contrário, foi crescendo, crescendo, tanto “que quase perdeu os pés de vista”. A conclusão, para ela, era simples: “Sei que alguma coisa interessante vai acontecer cada vez que eu beber ou comer qualquer coisa”. .


E assim fez, degustando até “seixos que se transformavam em bolos espalhados pelo chão” e “cogumelo que tinha uma lagarta sentada”


Em outra passagem, quando Alice vai à casa da Duquesa, vê a cozinha “cheia de fumaça de um lado a outro. A cozinheira estava inclinada sobre o fogão, mexendo um caldeirão enorme que parecia cheio de sopa”.
Alice pensou: “Tem pimenta demais naquela sopa” porque “pelo menos no ar havia muita pimenta”. Isso fazia com que todos espirrassem sem parar, “menos a cozinheira e um gato enorme, sentado junto ao forno”. Após o que vai dizendo frases filosóficas, como “A pimenta torna as pessoas belicosas; vinagre as torna acres, camomila as torna amargas e o açúcar e coisas parecidas tornam as crianças doces e suaves”; concluindo “Gostaria que as pessoas grandes soubessem disso: não seriam tão sovinas com doces e coisas assim”.
Outra sopa aparece num instigante diálogo, que será entendido de um jeito por crianças; e de outro, por adultos.
Rainha: – “Você já viu a Falsa Tartaruga?
Alice: – “Não. Nem sei o que é uma Falsa Tartaruga”
Rainha: – “É aquilo de que se faz a falsa sopa de tartaruga”.
Um diálogo surrealista, até porque a sopa, na realidade, era feita com carne de vitela: “Que bela sopa, de osso ou aveia, a ferver na panela cheia”!
Depois, “a Rainha de Copas fez umas tortas. “E, certo dia de verão, o Valete de Copas roubou as tortas”. Então organizaram um tribunal para julgar o Valete. O juiz era o próprio Rei de Copas. “No meio do tribunal havia uma mesa, com uma grande travessa cheia de tortas”. E tão apetitosas eram que Alice, morrendo de fome, pensou: “Quem me dera que esse julgamento acabasse logo e eles distribuíssem o lanche”. Faltando lembrar o chá na casa do Chapeleiro Maluco, com seus convidados – a Lebre de Março e um sonolento Leirão (tipo de roedor europeu) – que tomavam chá “diante da casa, sob uma árvore”. Havia, naquele lugar, “uma mesa posta – com chá, torradas e a melhor manteiga que tinha”. E por aí vai.
Agora, caros amigos, peço-vos que quando tiverem um tempinho, leiam o livro. Releiam-no se for o caso, mas abra os olhos para o que está nas entrelinhas dos diálogos construídos por Lewis Carroll. Ou se preferir faça como eu: - “Dê uma de Alice”. Saia um pouco da sua realidade, deixe o impossível acontecer.
Para ajudar, uns delírios etílicos, que viram sem fotos dos mesmos – só para que caiam na brincadeira...


O Coelho Branco
ingredientes

1 parte de licor de baunilha (Schnapps)
2 partes de creme de leite

Preparo: Adicione o licor de um copo alto e despeje o creme de leite.



O gato de Cheshire
ingredientes


1 parte de rum temperado (Captain Morgan ou Sailor Jerry)
1 parte de pêssego Schnapps
1 parte de suco de laranja

Preparo: 

Misture todos os ingredientes em um copo com gelo.



O Chapeleiro Maluco
ingredientes


1 parte de vodka
1 parte de licor de pêssego Schnapps
1 parte de limonada
1 parte de coca-cola

Preparo: misture no shaker a vodka, o licor, a limonada, em seguida, despeje sobre o gelo e adicione e complete com a coca cola.



Alice (não alcoólica)
ingredientes


1 parte de grenadine
1 parte de suco de laranja
2 partes de suco de abacaxi
4 partes de creme

Preparo: Misture todos os ingredientes em um copo.

A Rainha de Copas
ingredientes


1 parte de licor amaretto amêndoa
1 parte de licor de melão Midori
2 partes Blue Curacao licor
2 partes de suco de cranberry

Preparo: Combine o Midori com o amaretto em um copo, em seguida, adicionar o Curaçao azul e suco de cranberry.

Alice Através do Espelho
ingredientes


2 partes de absinto
1 parte de vodka de baunilha
1 parte de água
cubo de açúcar


Preparo: Combine o absinto e vodka em um copo de absinto. Depositar uma colher de absinto e cubo de açúcar no topo do vidro e lentamente verter água sobre o açúcar, dissolvendo-o no vidro. Mexa delicadamente e beber com cuidado!